Picos: Laboratório de Parasitologia, Ecologia e Doenças Negligenciadas (Lapedone) retoma monitoramento de mosquitos

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Última atualização em Sexta, 08 de Abril de 2022, 11h36

Após dois anos parado por conta da pandemia de Covid-19, o grupo de Culicidologia do Laboratório de Parasitologia, Ecologia e Doenças Negligenciadas (Lapedone), do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros (CSHNB/UFPI), em Picos, retomou as suas atividades de monitoramento de mosquitos.

Composto por acadêmicos do Curso de Ciências Biológicas do Campus, sob coordenação da professora Ana Carolina Pacheco, uma das linhas de pesquisa realizadas pelo grupo no Lapedone é a vigilância entomológica, direcionada para o estudo dos vetores transmissores de doenças ao homem que afetam a qualidade de vida da população. A pesquisa é realizada através da captura e identificação dos vetores, a bioecologia e a determinação da densidade populacional dos mesmos ao nível de vários bairros e zonas da cidade de Picos, com o intuito de detectar os agentes infecciosos presentes nos mosquitos. Os resultados das pesquisas são publicados em periódicos indexados, visando orientar as intervenções em matérias de controle vetorial e prevenção de epidemias.

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Diretor do CSHNB, Juscelino Nascimento, e o grupo de pesquisa no retorno das atividades do Lapedone

Segundo a professora Ana Carolina Pacheco, são monitorados três gêneros principais de mosquitos vetores: o Anopheles - que transmite a malária; o Aedes - que transmite uma grande quantidade de arboviroses; e o Gênero Culex (muriçoca) - que transmite a Febre do Nilo Ocidental por meio da picada de mosquitos fêmeas infectados.

“Ainda não se sabe ao certo o motivo, mas o Piauí é o único estado brasileiro que apresenta casos da Febre do Nilo Ocidental humana, inclusive o primeiro caso da doença aconteceu em Aroeiras do Itaim, apenas 28 km distante da cidade de Picos. Na época fizemos uma visita à localidade para observação da área, mas essa doença tem como principal ciclo o silvestre onde os principais afetados são as aves e os equídeos e acidentalmente temos a transmissão para o homem”. Ela explica que há o registro da doença em animais em diferentes estados do país, entretanto, só existem casos em seres humanos no Piauí. Daí a importância de se monitorar os mosquitos do gênero Culex, que é a muriçoca comum.

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Grupo de pesquisa analisando larvas coletadas

No Lapedone é feito também o monitoramento de outro Culicideo importante, do gênero Anopheles, que é a Malária. Carolina Pacheco destaca que apesar da doença ser endêmica na Amazônia Legal, podem ocorrer surtos em outros estados, pois quando as pessoas viajam para alguma área endêmica retornam aos seus locais de origem e a presença do inseto vetor, que no caso são mosquitos do gênero Anopheles, possibilita com que haja a transmissão local. 

“Ano passado tivemos um surto de Malária no município de Joaquim Pires - PI, localizado a 239 km da capital Teresina, causado por uma pessoa que chegou de outro estado e acabou contaminando pessoas da cidade. Então temos a presença esporádica desses casos que são trazidos e que na presença do vetor existe a possibilidade dos casos autóctones, como casos que outrora foram resgatados em Picos, causando surtos isolados fora da área endêmica da Amazônia Legal”. 

O destaque do monitoramento e da pesquisa, conforme a docente, é o mosquito do gênero Aedes, que faz a transmissão da grande maioria das arboviroses: Dengue, Chikungunya, Zika e da Febre Amarela Urbana, porque a Febre Amarela Silvestre é transmitida principalmente por mosquitos do gênero Haemagogus.

Participante do grupo de pesquisa desde 2018, José Fabrício, aluno do 9º período do Curso de Biologia, avalia como enriquecedora a oportunidade de atuar junto ao grupo. “Através da pesquisa eu pude adquirir muitos conhecimentos. Saber que um mosquito, por menor que seja, transmite várias doenças é muito instigante. Durante esses quatro anos têm sido muito bom trabalhar com toda essa parte da entomologia médica e também isso acaba estimulando em mim, como ainda estudante, a vontade de continuar pesquisando”, destaca.

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Coleta de larvas na armadilha Larvitrampas

Neste retorno, a coleta das larvas tem sido realizada através de armadilhas do tipo Larvitrampas (confeccionadas com pneu), mas em breve serão instaladas as armadilhas do tipo Ovitrampa (confeccionadas de vaso plástico e palheta de madeira). Depois da coleta é feita a triagem das larvas, que são armazenadas em potes com água limpa, onde ficarão até chegarem à vida adulta (mosquito alado). O monitoramento e manutenção das larvas em laboratório é feito diariamente até que as formas imaturas atinjam o estágio de mosquito alado para que seja realizada a completa identificação dos indivíduos coletados.

A professora Ana Carolina publicou em janeiro de 2022, na Research, Society and Development, o artigo “Mapeamento de mosquitos Aedes spp. e detecção do vírus Dengue em zona urbana do município de Picos, Piauí”. No artigo, a pesquisadora descreve pela primeira vez o mosquito Haemagogus spegazzinii, um relato muito importante deste tipo de mosquito em uma área de Caatinga restrita em um local periurbano e peridomiciliar. "Na pesquisa fizemos o monitoramento através das larvas e agora também através dos ovos para vermos quais as espécies encontradas aqui. No Brasil nós temos duas espécies principais do gênero Aedes que são: o Aedes aegypti e o Aedes albopictus, considerado mais silvestre, então, ele não ficava muito próximo aos ambientes domiciliares, mas o artigo mostrou a presença do Aedes albopictus em diversos locais, mesmo no intradomicílio. Assim, essa é uma das primeiras publicações no país, já que esse mosquito não é original daqui, ele é conhecido como Tigre Asiático", explica a docente.

A professora Márcia Maria Mendes, que também integra o Lapedone, desenvolve pesquisas de extratos de plantas que podem ser utilizados como larvicidas naturais. Ana Carolina Pacheco explica que a ideia é que consigam fazer um controle dos insetos sem causar danos ao meio ambiente.