
Evento marcou o anúncio de criação de Universidade Indígena pelo Governo Federal
Na manhã desta segunda-feira (27), a professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Socorro Arantes e o estudante de Medicina Anderson Arantes, Seribi Tukano, estiveram presentes no Ministério da Educação (MEC), em Brasília, durante a cerimônia em que o governo federal anunciou a criação da primeira Universidade Indígena do Brasil. A iniciativa representa um marco histórico na garantia do acesso à educação superior de qualidade, com respeito e integração aos saberes tradicionais dos povos originários.
De acordo com o professor Mairton Celestino, do curso de História da UFPI/Campus de Picos, a presença dos dois representantes não foi aleatória. Tanto Socorro Arantes quanto Seribi Tukano possuem trajetórias vinculadas à defesa dos direitos indígenas, à justiça climática e ao reconhecimento da ciência indígena como um saber legítimo e fundamental.
A professora Socorro Arantes coordena o projeto “Governança Política e Gestão Indígena para Equidade” na UFPI, financiado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI). A iniciativa investiga modelos de gestão territorial e educacional protagonizados por comunidades indígenas. Paralelamente, a docente também lidera o projeto “Brasil–Bolívia”, vinculado ao edital Abdias Nascimento, que fomenta o intercâmbio de conhecimentos e a cooperação internacional entre povos originários e comunidades quilombolas, em níveis de mestrado e doutorado.
Para Seribi Tukano, a criação da Universidade Indígena “não se institui apenas como um espaço de formação profissional, mas como um território de fortalecimento identitário e de produção de conhecimento que dialogue com a realidade e os saberes ancestrais de seu povo”. O estudante destaca ainda que “a luta dos povos indígenas se faz ao longo da história do Brasil e de maneira cotidiana, uma vez que, nos espaços de debate, somos constantemente questionados sobre a legitimidade de nossas ações e, muitas vezes, nossos argumentos são tratados como desonestos”. Para ele, a nova universidade representa “a possibilidade concreta de construção de uma ciência calcada no pensamento e nas tradições indígenas”.
A professora Socorro Arantes reforça que o anúncio é recebido com esperança pelos movimentos indígenas e pelos setores da educação. “A criação da universidade sinaliza que a política educacional pretende ser construída não apenas para os povos indígenas, mas com eles, em um verdadeiro exercício de descolonização do saber e de promoção da equidade”, conclui a docente da UFPI.