Um serviço dentro dos hospitais que talvez passe despercebido do grande público é o da odontologia hospitalar, que foca nos cuidados preventivos de doenças bucais nos pacientes em internação hospitalar e ambulatorial para evitar complicações de saúde. A rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) oferece esse cuidado ao público atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em algumas de suas unidades espalhadas pelo país.
A odontologia hospitalar é reconhecida como especialidade odontológica desde janeiro de 2024, mediante a Resolução nº 262 do Conselho Federal de Odontologia. O texto define a odontologia hospitalar como a “área de atuação voltada ao atendimento do paciente de alta complexidade destinada a tratar eventuais intercorrências médicas em ambiente hospitalar ou em assistência familiar”, que tem por objetivo a “promoção da saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças buco-dentais e doenças sistêmicas, bem como as consequências delas derivadas”.
No Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí (HU-UFPI), a odontologia hospitalar é voltada para os pacientes em tratamento oncológico, para os que passarão por cirurgia de troca valvar (procedimento que substitui uma válvula cardíaca doente por uma prótese) e pacientes na UTI, prioritariamente. Demais especialidades médicas são atendidas via consultoria/parecer.
“Hoje, contamos com a área de odontologia hospitalar na residência multiprofissional em cuidados intensivos. Temos uma cirurgiã-dentista residente exclusiva na UTI e outra na enfermaria da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon). Nos pacientes em UTI, são avaliados os focos de infecção em cavidade oral e monitoramento da higiene oral com foco na prevenção da PAV (Pneumonia Associada à Ventilação). Caso os pacientes nas enfermarias da Unacom precisem de tratamento, são agendados para atendimento em consultório ambulatorial”, explica a cirurgiã-dentista do HU-UFPI, Waléria Ferraz.
Nos ambulatórios, esses pacientes já triados são atendidos na enfermaria, assim como os pacientes que estão em acompanhamento ambulatorial fazendo quimio e radioterapia, de preferência aqueles com indicação de radioterapia de cabeça e pescoço e os que iniciarão o tratamento com bifosfonatos (classe de medicamentos utilizados principalmente para tratar e prevenir doenças ósseas, como a osteoporose).
Já os pacientes com cirurgia valvar são encaminhados previamente à cirurgia para avaliação odontológica em ambulatório. Em caso de necessidade, são atendidos em ambulatório. Do contrário, são liberados para cirurgia.
“Fazemos laser de baixa potência para prevenção e tratamento de mucosite (feridas e lesões que surgem na boca e na garganta) em pacientes que estão realizando radioterapia de cabeça e pescoço. Usamos laser para tratamento de lesões orais em UTI ou nas enfermarias se necessário, sempre visando tratamento de focos infecciosos em cavidade oral que possam prejudicar a evolução do tratamento médico do paciente”, comenta Waléria.
Odontologia Neonatal
No Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB-UFRN), os serviços de odontologia neonatal são voltados à prevenção e ao acompanhamento do desenvolvimento oral adequado dos bebês, garantindo mais saúde e bem-estar desde os primeiros dias de vida.
De acordo com a residente do HUAB, a cirurgiã-dentista, Karolinne Domingos, a odontologia neonatal é fundamental para a saúde bucal do bebê desde os primeiros dias de vida, com foco na prevenção de problemas futuros e no desenvolvimento adequado da cavidade oral. “Ela desempenha um papel crucial no diagnóstico e no tratamento de condições como o freio lingual alterado, identificado no teste da linguinha, que pode dificultar a amamentação”, explica.
A partir da avaliação da odontologia é possível realizar vários diagnósticos relacionados à saúde oral de bebês, como a anquiloglossia, popularmente conhecida como língua presa; a presença de dentes natais, quando o recém-nascido apresenta dente na cavidade oral ao nascer, “dependendo da mobilidade desse dentinho, esse deve ser removido para evitar que a criança engula ou mesmo aspire esse dentinho trazendo problemas graves. Mesmo quando sem mobilidade, se a presença dele machucar a mãe durante a amamentação ou a língua do bebê, pode ser necessário que o dentista tenha que fazer um leve desgaste desse dente”, explica a cirurgiã-dentista do HUAB, Viviane Fernandes.
Parceria
O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE) oferece atendimento especializado em estomatologia e odontologia hospitalar, fruto de uma parceria estratégica com o Hospital Odontológico da UFPE. Pacientes do HC que necessitem de avaliação odontológica especializada são encaminhados para o Centro de Especialidades Odontológicas (CEO/UFPE), onde são examinados e tratados em ambiente adequado. Nos casos em que o deslocamento não é possível, o atendimento é realizado diretamente no leio hospitalar.
Sob a coordenação de Luiz Alcino Gueiros, professor associado da UFPE, o serviço realiza cerca de 100 atendimentos mensais, dos quais aproximadamente metade corresponde a pacientes encaminhados pelo próprio HC. O foco principal é o cuidado de pacientes oriundos dos serviços de Oncologia e Reumatologia, embora parcerias com outras especialidades estejam em expansão.
“A estomatologia é a especialidade da odontologia dedicada ao diagnóstico, à prevenção e ao tratamento de doenças que afetam a cavidade oral e o complexo maxilo-mandibular. Nosso objetivo é integrar o cuidado odontológico de forma efetiva no contexto hospitalar, contribuindo para a saúde geral dos pacientes internados”, destaca Luiz.
Atualmente, está em curso uma iniciativa institucional para ampliar essa parceria, com a expectativa de expandir significativamente o número de atendimentos a pacientes do HC.
Sobre a Ebserh
A Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
*Com informações de HU-UFPI