A equipe B-R-O BRÓ Baja durante competição em 2024
A equipe B-R-O BRÓ Baja, projeto de extensão formado por estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI), representará a instituição pela primeira vez na competição oficial Baja Nordeste, promovida pela Sociedade de Engenheiros Automotivos (SAE Brasil). O evento acontece entre os dias 17 e 19 de outubro, em Camaçari (BA), reunindo equipes universitárias de toda a região Nordeste que projetam e constroem veículos off-road para provas de engenharia.
Sob a orientação do professor Waydson Martins, coordenador do curso de Engenharia Mecânica, a equipe sairá de Teresina no dia 15 de outubro, levando o protótipo 4x4 desenvolvido nas oficinas da Universidade. O retorno está previsto entre os dias 19 e 20, após a conclusão das provas. A UFPI será a única instituição a representar o Estado do Piauí nesta edição do evento.
Histórico do projeto
Waydson Martins, professor coordenador do projeto. Foto: Arquivo/SCS
A trajetória do Projeto Baja UFPI começou em 2012, quando o então estudante de Engenharia Mecânica Marlon, hoje engenheiro formado, apresentou à universidade a proposta de criar uma equipe. A ideia foi acolhida pelo professor Waydson, que conseguiu apoio inicial por meio de um edital do CNPq/Vale para aquisição das primeiras peças.
Segundo o professor, apesar de o recurso não ter sido suficiente para construir o primeiro veículo, o objetivo do projeto sempre foi claro. “A meta sempre foi submeter os estudantes a atividades semelhantes às que os engenheiros desempenham, em um ambiente dinâmico e colaborativo. Eles vivenciam todo o processo de desenvolvimento de um produto, desde o projeto, fabricação e montagem até os testes e a viabilização”, explica o professor Waydson Martins.
Criada em 1976 nos Estados Unidos e trazida ao Brasil em 1995, a competição Baja SAE tem como propósito estimular a inovação, o trabalho em equipe e a formação prática de futuros engenheiros. O termo “Baja” vem das tradicionais corridas off-road realizadas na península da Baixa Califórnia (México), conhecidas por seus terrenos desafiadores.
Superação e evolução
De acordo com o professor Waydson, um projeto completo, com peças de qualidade, pode custar cerca de R$ 100 mil. O primeiro carro da UFPI, construído em 2024 para a 3ª Edição do Baja Maurisstad, evento amistoso realizado no Centro Tecnológico da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), foi desenvolvido com peças reaproveitadas, totalizando R$ 22 mil. Mesmo com as limitações, o protótipo foi concluído e participou com êxito da competição, servindo como preparação para o desafio oficial deste ano.
O carro de 2025, com custo estimado em R$ 40 mil, marca uma nova fase para a equipe. O projeto foi elaborado conforme as exigências do regulamento da SAE, com modelagem detalhada no SolidWorks e simulações estruturais no ANSYS, abrangendo análises de carga, tensão e falhas. “O novo carro tem tração 4x4 (AWD) e um nível de detalhamento muito maior. Mesmo com o aumento de custos, os alunos se superaram mais uma vez, conseguiram patrocinadores e demonstraram garra e espírito de equipe”, destaca o professor.
Integração entre engenharias e formação prática
O Projeto Baja UFPI reúne estudantes das engenharias Mecânica, Elétrica, Civil, de Materiais e de Produção, proporcionando uma experiência interdisciplinar e prática. “Os alunos aplicam na prática o que aprendem em sala de aula, enfrentando desafios e tomando decisões que desenvolvem habilidades técnicas e empreendedoras. Além disso, o projeto possui uma estrutura semelhante à de uma empresa, com setores administrativos, técnicos e de custos”, explica Waydson Martins.
O estudante Samuel Bezerra, do curso de Engenharia Elétrica e diretor de marketing da equipe, relata que a experiência tem sido transformadora. “Hoje consigo interpretar desenhos técnicos, elaborar orçamentos e participar da montagem do carro. Aprendi a trabalhar com outras engenharias e a compreender melhor as áreas de design, ergonomia e transmissão. É uma vivência que me tornou um profissional muito mais preparado”, afirma.
Para Samuel, o projeto também representa uma oportunidade de crescimento pessoal e científico. “Ser avaliado com rigor técnico e ver o progresso do grupo é o que nos motiva. Cada nova etapa é um aprendizado que nos aproxima da realidade do mercado e do papel do engenheiro na sociedade.”
Expectativas e próximos passos
O professor Waydson Martins ressalta o entusiasmo para a primeira participação da equipe na competição oficial e o foco no aprendizado contínuo. “A expectativa é altíssima. Precisamos controlar a ansiedade dos alunos para evitar erros simples, mas estamos confiantes. O carro deste ano foi projetado com muito mais cuidado e fabricado com ferramentas e peças de melhor qualidade.”
Ele explica que o Baja Nordeste é composto por várias etapas eliminatórias e que o grande objetivo é chegar à prova final de Enduro, com duração de três horas. “Problemas e falhas podem acontecer, e isso faz parte do aprendizado. A engenharia é justamente o processo de aprimorar projetos para reduzir erros ao mínimo. Já houve uma grande evolução desde o ano passado, e isso mostra o quanto crescemos”, afirma.
Pensando no futuro, o professor destaca a importância de fortalecer a continuidade do projeto e investir em melhorias estruturais. “Ainda trabalhamos em um espaço pequeno e muitas atividades, como soldagem, são realizadas ao ar livre. Nosso plano é ampliar o laboratório e evoluir para protótipos elétricos e movidos a combustíveis sustentáveis, incorporando mais tecnologia e eletrônica aos veículos”, conclui.