
Estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição cria produto que atende às restrições da dieta, com alto teor de gorduras boas e baixa quantidade de carboidratos, aliando saúde e sabor
Uma pesquisa defendida no âmbito do doutorado do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição (PPGAN) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) promete facilitar a vida de quem segue a dieta cetogênica. O estudo, conduzido pela doutoranda Marilene Magalhães de Brito e orientado pela professora Amanda de Castro Amorim Serpa Brandão, resultou no desenvolvimento de duas formulações de uma pasta à base de abacate, pensada especialmente para este público.
A dieta cetogênica (DC) é uma abordagem nutricional que se baseia no consumo elevado de gorduras, moderado de proteínas e uma forte restrição de carboidratos. Ela é frequentemente indicada para o manejo de condições como epilepsia refratária, diabetes tipo 2, obesidade e algumas doenças neurodegenerativas. Contudo, um dos maiores desafios para quem adota este plano alimentar é a baixa disponibilidade de produtos industrializados que se encaixem em suas rígidas exigências.
Visando preencher essa lacuna no mercado, a pesquisa focou no abacate (Persea americana Mill.), uma fruta rica em ácidos graxos monoinsaturados, fibras e compostos bioativos. O objetivo do estudo foi desenvolver um produto que, além de nutricionalmente compatível com a dieta, superasse a alta perecibilidade do abacate fresco, transformando-o em uma alternativa de consumo duradoura, conveniente e saborosa.
Foram criadas duas versões do produto: a formulação F1 (com leite e óleo de coco) e a F2 (com leite, óleo de coco e cacau 100%). Ambas apresentaram resultados excelentes, com altos teores de lipídios (11,93% na F1 e 11,55% na F2) e baixíssimos níveis de carboidratos (8,67% na F1 e 8,01% na F2), atendendo perfeitamente aos requisitos da dieta cetogênica.
“A ideia surgiu a partir de uma conversa com a minha amiga e colega nutricionista Andressa Cavalcante, que atua com dieta cetogênica no consultório e obtém excelentes resultados no tratamento de crianças com doenças neurológicas. Esse diálogo despertou meu olhar para uma necessidade real: apesar dos benefícios comprovados dessa abordagem nutricional e amplamente discutidos na literatura científica, o mercado ainda oferece pouquíssimas opções de produtos prontos e adequados para quem faz dieta cetogênica, especialmente para crianças, que muitas vezes apresentam dificuldades de deglutição e necessitam de preparações com textura e composição específicas” Informou, Marilene Margalhões de Brito.

Marilene Margalhões de Brito ao lado da professora Amanda de Castro
Um dos grandes diferenciais da pasta é o seu perfil de ácidos graxos, com destaque para a predominância do ácido oleico, conhecido por seus benefícios à saúde cardiovascular e metabólica. A versão com cacau (F2) se destacou ainda mais por apresentar teores
superiores de minerais essenciais como cálcio, magnésio, ferro, potássio, manganês e zinco, nutrientes fundamentais, especialmente em dietas restritivas.
A segurança alimentar do produto também foi uma prioridade. As análises microbiológicas confirmaram que ambas as formulações estão em conformidade com os padrões estabelecidos pela legislação vigente (IN nº 161/2022), garantindo um produto seguro para o consumo.
Aceitação pelo público
Para além da análise laboratorial, a pesquisa incluiu uma análise sensorial com voluntários adultos. Os resultados foram positivos: ambas as pastas foram bem aceitas. A formulação F2, com cacau, foi a favorita do público, recebendo as melhores notas nos quesitos de aceitação, preferência e intenção de compra.
“Para mim, a boa aceitação sensorial significa que conseguimos entregar não apenas um alimento nutricionalmente adequado e potencialmente útil no contexto terapêutico, mas também um produto que promove prazer ao comer. Isso é fundamental, especialmente quando pensamos em adesão alimentar, qualidade de vida e no papel da alimentação como parte do cuidado e conforto, principalmente no público que necessita de dietas específicas” disse a pesquisadora.
O estudo conclui que as pastas de abacate desenvolvidas são alternativas nutricionalmente adequadas, seguras e sensorialmente atraentes para a inclusão na dieta cetogênica. Os achados abrem caminho para a indústria de alimentos, mostrando a viabilidade de desenvolver produtos específicos para dietas restritivas, contribuindo para uma maior diversidade nas prateleiras e, consequentemente, para uma maior qualidade de vida e adesão dos pacientes a seus planos alimentares.
