Reunião híbrida na Reitoria da UFPI com lideranças quilombolas
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) concluiu nessa terça-feira (7/10) um ciclo de reuniões com comunidades para apresentar e dialogar sobre a minuta de Resolução da Política de Inclusão de Indígenas, Quilombolas e Quebradeiras de Coco Babaçu nos cursos de graduação presencial da Instituição. O encontro da terça ocorreu no Salão Nobre da Reitoria, de forma híbrida, entre representantes das Pró-Reitorias de Ensino de Graduação (Preg) e Assuntos Estudantis e Comunitários (Praec) e da Associação dos Docentes da UFPI (Adufpi) com representantes de populações dos quilombo mimbó, em Amarante, e Tapuio, em Queimada Nova. Anteriormente, a Universidade já havia promovido encontros com representações indígenas e de quebradeiras de coco.
Na reunião, mais uma vez, a Universidade reafirmou seu compromisso com a inclusão e a democratização do acesso a grupos historicamente excluídos da educação superior. Em diálogo, a proposta de texto para efetivação da política, como requisitos para ingresso, origem das vagas que serão disponibilizadas, oportunidades de acesso à assistência estudantil e como se dará a gestão de todo o processo.
Segundo dados do censo 2022 do IBGE, existem cerca de 32 mil quilombolas no Piauí, sendo o sétimo estado brasilerio com maior percentual dessa população. Há aproximadamente 50 quilombos espalhados e reconhecidos por todas as regiões do estado, conforme levantamentos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto de Regularização Fundiária e Patrimônio Imobiliário do Piau (Interpi).
A pró-reitora de Graduação, Gardênia Pinheiro, presente ao encontro com os quilombolas, explicou que, após a aprovação da Política no Conselho Universitário (Consun/UFPI), com previsão de reunião no dia 14 de outubro, será instituído o Conselho Especial da Política de Inclusão Étnica (CEPIE), que coordenará a execução do processo, depois serão definidos os procedimentos operacionais e por fim publicado o Edital com todos os detalhes, com previsão de ingresso em março de 2026.
Pró-reitora de Graduação, Gardênia Pinheiro
“Trazemos essa consulta aberta às comunidades como um marco histórico na Universidade, construindo uma política de inclusão que alcança indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco. Essa política traz novos caminhos de acesso ao Ensino Superior para esses grupos contemplados e como resultado disso temos a Universidade contribuindo com a transformação social através de uma educação inclusiva e respeitosa”, avaliou a Pró-Reitora.
Pró-Reitor da Praec, Emídio Matos
Também participante da reunião, o Pró-Reitor da Praec, Emídio Matos, disse que garantir políticas de assistência estudantil a esse público é uma grande preocupação, buscando oferecer mais condições de permanência na Instituição. “Não só criar as condições para democratizar o acesso, mas também de permanência e conclusão com sucesso dessa jornada acadêmica”, disse o Pró-reitor. “Indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco terão acesso aos editais, mas também com uma pontuação diferenciada, para que, de fato, a gente possa garantir essas condições de permanência, como acesso ao restaurante universitário, auxílio moradia e moradia e aos benefícios financeiros que temos na Universidade”, completou o Prof. Emídio Matos.
A coordenadora de Graduação da PREG, Profa. Marli Clementino
A coordenadora de Graduação da PREG, Profa. Marli Clementino, explicou que a implementação da política permitirá ampliar o acesso a indígenas, quilombolas, e quebradeiras de coco sem diminuir vagas já oferecidas na UFPI em outras seleções como Enem ou ingressos específicos. “Tão logo essa política seja aprovada nos conselhos superiores, teremos já para o primeiro semestre de 2026 vagas para todos os cursos da Universidade para ingresso específico e reservado a esses grupos, proporcionando ao ambiente acadêmico imensa troca de experiência e de saberes”, avaliou.
Prof. Fábio Passos, coordenador da Coidea/UFPI
Segundo o Prof. Fábio Passos, coordenador da Coordenadoria de Inclusão, Equidade e Acessibilidade (Coidea/UFPI), um dos destaques da seleção de indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco é a participação ativa de representantes dessas populações nas diversas etapas do processo. “Essas pessoas terão papel ativo, vão integrar o colegiado especial de políticas de inclusão étnica, e estarão o tempo todo partícipes desses processos, seja através da elaboraçao dos editais, seja pensando na deliberação das cotas a participação desses representantes serpa fundamental na garantia de inclusão desses grupos na Universidade”, disse o coordenador da Coidea.
Maria Rosalina dos Santos, coordenadora estadual das comunidades quilombolas no Piauí
Representando as lideranças quilombolas, Maria Rosalina dos Santos, coordenadora estadual das comunidades quilombolas no Piauí, participou da reunião híbrida e trouxe colaborações ao diálogo de construção da política. “Agradecemos o convite para participar desse momento de escuta e de consulta, em que a Universidade abre suas portas por vontade própria, mas também como resultado de uma luta incansável para que essas oportunidades possam chegar àqueles que historicamente se encontram à margem”, disse Maria Rosalina. “Que bom contar com profissionais que têm essa sensibilidade com a política pública para que possa ser executada de acordo com a luta e a defesa de quem quer ser incluído”, completou a liderança estadual quilombola.
Também estiveram na reunião a vice-presidente da Adufpi, Profa. Bárbara Johas, e o coordenador de Seleção e Programas Especiais da UFPI, Prof. Willian Mikio Kurita Matsumura.
Encontro com lideranças indígenas e de quebradeiras de coco
Reunião híbrida com representantes indígenas no Salão Nobre da UFPI
No dia 24 de setembro, a Universidade Federal do Piauí (UFPI), foi palco de um momento histórico na Instituição: em reunião com lideranças do movimento das quebradeiras de coco e de comunidades indígenas no Salão Nobre da Reitoria, em Teresina, foi socializada e discutida a Política de Inclusão para ingresso desses povos em cursos de graduação da Universidade. A reunião pela manhã foi realizada com representantes dos povos indígenas: Kairi, Akroá Gamela, Tabajara e Guajajara, que participaram de forma presencial e virtual. À tarde, a reunião foi com o movimento de quebradeiras de coco babaçu.
A cacica Aliã Wamiri Guajajara
A cacica Aliã Wamiri Guajajara, lider indígena na Aldeia Ukair de Teresina, destacou a importância da educação pública superior do Brasil em congregar caciques, cacicas e professores da educação indígena para uma construção democrática da política de inclusão. “Tudo isso é voltado para a valorização das diferenças, a diversidade étnica dos povos indígenas no estado Piauí e no Brasil. É uma conquista e reparação histórica que a UFPI faz em escutar publicamente os povos indígenas para opinarem na resolução, na construção de artigos que valorizam a entrada desses estudantes nesta Universidade”, declara.
Vice-reitor da UFPI, professor Edmilson Moura
O vice-reitor da UFPI, professor Edmilson Moura, enfatizou a importância de discutir a minuta da Política com representantes dos povos tradicionais para garantir a equidade da graduação na Universidade, de modo que a construção do processo seja democrático e valorize as experiências e demandas específicas deles. “É um trabalho que ao longo do tempo será aperfeiçoado, a fim de que sejam apresentadas políticas públicas sustentáveis e que atendam “àqueles que mais necessitam do poder público. Nós, da Universidade, possuímos o papel de apresentar soluções para os problemas que afligem a nossa sociedade, e essas comunidades são, historicamente, excluídas da nossa Instituição. Isso não é mais tolerável e queremos reparar, trazer com a certeza de que eles poderão vir e poderão permanecer”, afirmou.
Helena Gomes da Silva, liderança do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu
Helena Gomes da Silva, liderança do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), pondera que a política de inclusão é uma conquista do movimento e que jovens filhas e filhos de quebradeiras devem se orgulhar desse dia, das suas raízes e que não devem ter medo do preconceito. “É um momento muito histórico para as quebradeiras de coco estarem aqui, porque é tudo isso que necessitamos: de estar dentro deste campus a buscar educação para nossos filhos. É um momento que vamos lembrar e será falado para os nossos filhos sobre a importância desse dia. E a importância maior é de que nossas filhas e nossos filhos vão estar aqui vendo nossa integração e contribuindo com a sociedade. Hoje começa o futuro deles também”, afirma Helena.
A pró-reitora de Ensino de Graduação (PREG) da UFPI, Gardênia Pinheiro, explicou que a implantação da Política de Inclusão na UFPI começou com a elaboração da proposta por uma comissão, a partir de demanda da UPEI, com contribuições da PREG e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (PRAEC). Após manifestações da ADUFPI e do movimento indígena (APOINME), iniciou-se a consulta prévia com os povos e comunidades beneficiárias.
Reunião com representantes das quebradeiras de coco
Também estiveram presentes nas reuniões, o pró-reitor de Assuntos Estudantis e Comunitários (PRAEC), Emídio Matos; pró-reitora em exercício de Ensino de Pós-Graduação (PRPG), Aldeidia Pereira de Oliveira; diretora de Educação Escolar Indígena e Quilombola da Seduc Piauí, Raquel Barros; coordenador de Inclusão, Diversidade, Equidade e Acessibilidade da UFPI, Fábio Abreu dos Passos; coordenadora da Coordenação Geral de Graduação da UFPI, Marli Clementino; coordenador de Seleção e Programas Especiais da UFPI, Willian Mikio Kurita Matsumura; e a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (PPGAntro), Carmen Lúcia Silva Lima.