Albemerc Moraes durante sua participação na Arena Cordel
“A maior expressão poética que o nordestino e o piauiense possuem”, conta a cordelista e professora, Maria Ilza Bezerra. Presente pela primeira vez na Arena Cordel do 23ª Salão do Livro do Piauí (SaLiPi), a escritora natural de Picos, relata que seus textos são protagonizados por mulheres. “Eu vejo o cordel como um espaço de resistência, nisso gosto de apresentar histórias de mulheres de luta e de garra. Elas não levam desaforo para casa”, enfatiza sorrindo. Entre as personagens retratadas por Maria Ilza estão Niède Guidon, Esperança Garcia e a Deusa do Rio Guaribas. Esta última luce como uma defensora ambiental que ajuda a salvar o Rio Guaribas, rio que banha a região de Picos.
Presidente da Fundação Quixote, Kássio Gomes
Desde 2022, a Arena Cordel conta com um espaço reservado no SaLiPi, oferecendo apresentações diárias de cordelistas e cantadores, ao longo dos 10 dias de evento. Segundo o presidente da Fundação Quixote, Kássio Gomes, a criação da arena surgiu da necessidade de ampliar os espaços dedicados à cultura popular. “Nós já tínhamos algumas atividades voltadas para o cordel, mas elas ocorriam de forma isolada, dentro do bate-papo literário, geralmente com lançamentos de cordéis. Considerando que o cordel é hoje um patrimônio cultural imaterial brasileiro, e que o Piauí é um verdadeiro celeiro de grandes cordelistas, não poderíamos deixar essa expressão artística à margem do Salão do Livro”, explica.
Cordelista Josefina Ferreira Gomes
Para a cordelista Josefina Ferreira Gomes, de São João do Piauí, o espaço é fundamental para a divulgação da arte do cordel e para dar visibilidade ao trabalho das mulheres cordelistas. “Faço cordel há mais de 20 anos. Por isso, parabenizo o SaLiPi pela iniciativa e aproveito para convidar mais mulheres a participarem. Temos muitas poetisas aqui no Piauí. Ocupar esse espaço é uma forma de valorizar e dar visibilidade a uma cultura que é tão nordestina, tão piauiense”, exclama.
Cordelista Maria Ilza Bezerra
Maria Ilza Bezerra reforça que a Arena Cordel é necessária para a população reconhecer o papel social da produção de cordel. “Trazer a literatura de cordel para o espaço acadêmico no meio de um evento da dimensão do Salão do Livro é fundamental para que as pessoas compreendam não só sua beleza, mas a força de suas narrativas que perpassam as nossas vidas”, finaliza.
Ciência e Cordel
Albemerc Moraes ao lado da discente de Agropecuária do CTT e orientanda de iniciação científica, Joana D'arc Oliveira
Além de serem narrativas de representatividade cultural, os cordéis também podem ter como tema o conhecimento científico. O coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica (NINTEC/UFPI), Albemerc Moraes, comenta duas produções suas que estão sendo divulgadas na Arena Cordel. A primeira corresponde ao “Cordel - Projeto Escolas Solares”, em coautoria do professor Vagner Ribeiro e estudantes da Escola do Contentamento da cidade de Oeiras (PI). Já a segunda produção “Cordel Canindé Solar” tem autoria solo de Albemerc Moraes. Ambos foram editados pela Gráfica da Universidade Federal do Piauí.
“A primeira iniciativa surgiu vinculada ao projeto Escolas Solares, que teve como objetivo contemplar escolas públicas das zonas rurais do Piauí com sistemas de energia solar conectados à rede elétrica. Durante essa ação, escrevi parte dos versos em parceria com os alunos, e o professor Vagner Ribeiro os musicalizou, para que pudéssemos apresentá-los nas escolas. Como resultado, levamos o primeiro cordel para um evento literário em Oeiras”, elucida Albemerc Moraes.
Os cordéis produzidos por Albemerc Moraes
A partir desse primeiro cordel nasceu a inspiração para uma segunda produção. Albemerc Moraes conta sobre o projeto de extensão Ser Tão Sol e a música homônima que o inspirou. O projeto tem como foco levar energia solar para populações rurais que mais necessitam, com atenção especial ao bombeamento de água para agricultores e agricultoras familiares de baixa renda.
"Graças a uma emenda parlamentar, conseguimos implantar 10 sistemas de bombeamento de água no território do Vale do Rio Canindé. Por isso, surgiu o projeto Canindé Solar, que foi submetido às Nações Unidas, e ganhamos um prêmio de reconhecimento: o Prêmio de Experiências Inovadoras para a Promoção do Desenvolvimento Local, concedido pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)", destaca Albemerc.
Com o reconhecimento da ONU, foram implantados sistemas de bombeamento em mais 11 comunidades. Posteriormente, a FAPEPI aprovou, em 2023, uma nova iniciativa em Oeiras. Já em 2024, o projeto foi lançado oficialmente durante a Conferência Internacional de Tecnologia das Energias Renováveis (CITER), com o nome Ser Tão Sol.
"Porque, ao viajar por diversas comunidades, começamos em Oeiras, mas também passamos por Santo Inácio do Piauí, Santa Rosa do Piauí (todas na região do território), e com o prêmio expandimos para José de Freitas, Currais (perto de Bom Jesus), e chegamos até Brasileira. Ou seja, percorremos o Piauí de ponta a ponta. Durante essas viagens, sempre ouvíamos uma trilha sonora que nos acompanhava: duas músicas estavam sempre presentes: ‘Pedagogia da Seca’, de Roberto Malvezzi, e ‘Ser Tão Sol’, também dele. Essa última foi a grande inspiração para continuar essas ações, mobilizando recursos de pessoas físicas e jurídicas. E foi daí que surgiu a ideia de levar o Ser Tão Sol ao SALIPI", esclarece Albemerc Moares.
Os cordéis de Albemerc Moraes também serão apresentados durante o Bate-Papo Literário, que acontece nesta sexta-feira, 13 de junho, às 16h. Toda a renda obtida com as vendas será revertida para as comunidades cadastradas no projeto Ser Tão Sol. "Temos uma comunidade apta a receber apoio, que trabalha com a extração de polpa de maracujá. No entanto, todo o sistema de captação de água ainda é bastante rudimentar. Com os recursos arrecadados por meio da venda dos cordéis, pretendemos investir na modernização do processo agrícola dessa comunidade, localizada em José de Freitas", conclui Albemerc Moraes.
Acesse o site do projeto Ser Tão Sol.